Cuidar da dor com fé e discernimento 3t7149
Por: Pe. José Carlos Ferreira da Silva 166fv
"Em nossa missão de evangelizar e acompanhar o coração humano, deparamo-nos com expressões cada vez mais diversas de sofrimento, afeto e busca por consolo. Uma dessas expressões é o cuidado com os chamados bebês reborn — bonecos hiper-realistas tratados como filhos por algumas pessoas.
O tema, que desperta curiosidade, interesse científico e até controvérsia, exige de nós, como comunidade cristã, um olhar que una compaixão, escuta e discernimento. Por um lado, é possível reconhecer que, em determinados contextos, esses bonecos têm sido utilizados como recurso terapêutico, ajudando idosos, pessoas com deficiência ou mulheres que aram por perdas a expressarem afetos e enfrentarem o vazio com alguma ternura simbólica.
No entanto, especialistas em psicologia e psiquiatria também nos alertam para situações em que o vínculo com esses bonecos ultraa os limites do saudável e rompe com a realidade. Quando o cuidado simbólico se transforma em um cotidiano de fantasia — com banhos de sol, mamadeiras, roupas trocadas, eios e até encontros sociais entre "mães e pais reborn" — pode haver sinais de sofrimento emocional não resolvido, como luto prolongado, isolamento social, depressão ou mesmo transtornos mais graves.
É nesse ponto que a comunidade de fé pode e deve oferecer um espaço de acolhimento e orientação. Não com julgamentos apressados ou rótulos, mas com a pergunta evangélica: "Como podemos ajudar essa pessoa a reencontrar a vida?".
A Igreja acredita na força dos símbolos, mas também na força da verdade, da escuta e da presença. Cuidar da dor alheia é missão nossa — mas sem alimentar ilusões ou fechar os olhos para desequilíbrios que, silenciosamente, ferem ainda mais.
Se alguém próximo manifesta esse tipo de comportamento, não é hora de zombar ou afastar. É hora de acolher com carinho, sugerir apoio profissional, envolver-se com delicadeza e, acima de tudo, caminhar junto.
Porque Cristo sempre se aproximou das feridas humanas. E nos ensina, ainda hoje, que o amor verdadeiro não foge da dor — mas também não a disfarça com fantasias, e sim a transforma com esperança."
Pe. José Carlos Ferreira da Silva é autor do livro Feridas Invisíveis: a realidade do sofrimento psíquico em padres e pastores decorrente da prática pastoral- Editora Dialética. É Mestre em Ciências da Religião, Jornalista e Psicólogo. Atualmente é Vigário Episcopal para Comunicação da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim e Pároco da Paróquia Nosso Senhor dos os, bairro Independência, Cachoeiro de Itapemirim.
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